07 fevereiro 2010

Primeiros Momentos * * Perguntar Ofende?

Perguntar ofende?

Carlos subia a calçada da ajuda para se apresentar em Lanceiros 2, ia taciturno naquela manhã de inverno, recordava as últimas palavras do Pai e da Mãe, pois tinha-se despedido na madrugada, tinha saído da casa que lhe tinha sido até agora, o lar do seu recolhimento. Não queria que ninguém dos seus mais queridos por perto, naquela hora de separação. Momento que ele sentia como o mais delicado de sua vida, era o salto para o desconhecido, para todas as incertezas.

Tinha passado a semana a despedir-se da família, dos amigos e de todos os mais próximos, percorreu seca e meca para chegar perto de todos eles.
No pensamento lhe fervilhava as fontes, ainda estava a tempo de atravessar a fronteira e dar pulo até França ou mesmo a Argélia. Assim se veria livre da teia que lhe estava próximo a cercear toda a mocidade, vinte e dois anos plenos de força, jovialidade e saúde, que iriam descer aos infernos, ainda está a tempo de seguir o que não deixava dormir há algumas noites.

Na íngreme calçada, devidamente ataviado, dentro daquele fato se sentia apertado e o saco de viagem com poucos haveres lhe pesava como peso em excesso, pois se brigavam as vontades do menino e moço.

Acordou num repente dos seus pensamento obscuros, com a chegada do corpulento cigano.
- Senhor quer comprar um relógio? E toca de mostrar duas mãos cheias de relógios por entre uns lenços não muito limpos por tanto manuseio.
Carlos parou, olhou o cigano de alto a baixo, e continuo a subida, o cigano foi no encalço e continuou o cerco.
- Senhor são de excelente marca e dou garantia.
Carlos parou, olhou o cigano nos olhos e lhe retorquiu um seco.
- Não.
Voltando o vendedor contrabandista à carga.
- Não são caros os relógios e lhe fará falta, pois estes têm cronometro.
Novamente Carlos parou, voltou a olhar o cigano e com cara de poucos amigos.
- Meu amigo, o momento não é para comprar relógios, hoje estou imensamente chateado e sabe o porquê não sabe?
- Sei, mas que quer, é a vida.
- É uma vida de porra, nem sei se o que vou fazer é vida.
- Mas isso não o impede de ter um bom relógio.
Carlos não retorquiu e voltou à subida, alargou o passo, o largo portão de Lanceiros já estava perto. Mas o cigano, não queria largar a presa.
- Senhor lembre-se que é a última compra que faz em Portugal.
Aí Carlos desesperou “ última compra em Portugal”. A frase caiu como ave de mau agoiro. Parou novamente, virou-se para o cigano e lhe gritou.
- Porra! Largue-me de mão seu caralho.
O cigano não esperava uma acutilância tal e respondeu baixinho.
- O Senhor desculpe, “Mas perguntar ofende”?
Carlos, sorriu.
- Que tenha bons negócios…Atravessou a avenida e entrou em Lanceiros, onde o Soldado lhe apresentou arma, colocando-se em sentido.

Karl d'Jo Menestrel
07/02/2010

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