07 março 2010

Primeiros Momentos ** 1º Dia em Moçambique

  
Brasão de Moçambique

Mapa Administrativo
 
Mapa de Estradas
Lichinga é nome que tomou depois da independência a Cidade de Vila Cabral

 
  
Vista Aérea da Cidade da Beira
  

Chegados aos Adidos o Transmissões, despediu-se dos rapazes.
- Quando voltarem à Beira já estou fora da tropa e pode ser que nos voltemos a encontrar, procurem por mim no bar onde comeram os camarões tigres, o dono daquilo saberá o meu paradeiro.
Os maçaricos abraçaram o velhinho, que lhes tinha dado as primeiras lições de como estar em terras Africanas, muita cerveja, muito marisco e algumas mulheres para animar a malta.

Lá se foram juntar aos que na noite anterior tinham chegado no avião dos TAM. Por ali espalhados, Cabos, Furriéis, Alferes, Tenentes, Capitães, Majores, Tenentes-coronéis e Coronéis, em maioria estavam os Furriéis, que vinham render outros camaradas.
Chegando a vez de Carlos, foi informado, que embarcaria no aeroporto da Beira para Nampula num avião da DETA (Transportadora Aérea de Moçambique) teriam de voltar aos Adidos pelas 11h, para tomarem uma viatura que o levaria até ao aeroporto.

- E agora disse Carlos virando-se para o de Artilharia e o da Saúde.
- Vamos por aí. Disse o Cabo-Verdiano fazer tempo.
- Por mim para onde forem, eu também vou. Atirou o de Almodôvar
- Olhem lá e se alugasse-mos um táxi, para ele nos mostrar a cidade, temos quase 3 horas, ainda dá para vermos alguma coisa, beber umas cervejas e como o marisco é quase oferecido, voltava-mos a dar umas trincadelas nuns gigantes.
- Por mim podes comandar as tropas. Afirmou o de Artilharia.
- E tu pá não vais ter com a louraça. Lembrou-se o Cabo-Verdiano.
- Isso não me sai da cabeça, mas como posso ir? Nem avisar posso, não tenho o telefone da magana.
- E se a gente passa-se por lá? Disse o Almodôvar.
- Para quê? Disse Carlos
- Para a despedida.
- Qual quê não dá tempo, o bom era ficar por cá até amanhã e só depois ir, assim não dá.
- Eu arranjo a coisa. Disse o Cabo-verdiano.
- Como? Respondeu Carlos
- Vamos ao Hospital Militar e tu dás entrada dizendo que tens fortes dores de barriga, assim ficas por cá uns tempos.
- Tu és mais maluco que eu, então eu ia trocar uns dias no hospital, para me darem umas injecções de água destilada, ainda a foda era maior.
- Só queria ajudar.
- Deixa lá, não devem é faltar mulheres lá no Norte.
- Pretas, prova as pretas, que não te arrependes.
Todos riram, com a tirada do Almodôvar.
- Então vamos dar a volta de táxi, ou sentamos, numa esplanada no centro. Interrogou Carlos
- Vamos lá ver as vistas disse o Cabo-verdiano.

Não foi difícil encontrar um táxi e fechar o negócio com o taxista, duas horas por conta deles, mostrando a Beira e alguns arredores.

- O que querem ver? Perguntou o taxista
- Tudo o que nos poder mostrar. Informou Carlos que ia à frente.
- Começamos pelas praias, pode ser.
- Pode, mas tem que terminar numa cervejaria perto dos Adidos.
- Começamos pelo Macuti.
- Macuti ?
- Sim é uma praia onde existe um farol não é longe.
-A praia do Macuti obteve o nome, devido ao cargueiro do mesmo nome, que operava na costa Moçambicana e que acabou por encalhar junto ao farol. Lá foi informando o do táxi

 
Praia do Macuti

 
Praia do Macuti 

 Acácias nas avenidas da Beira

Estação dos Caminhos de Ferro

Moeda corrente em Moçambique

 
Uma das grandes, Um conto de Reis, Mileca grande

Largo Caldas Xavier

Ao fundo Hotel Moçambique onde Carlos se hospedava, quando de passagem pela Beira para Portugal ou de Portugal para a Beira

Cubatas perto da praia

Passaram o tempo entrando e saído do táxi, para melhor verem algum lugar, passaram pelas avenidas largas da Beira. Taxista, mostrou lugares onde se situavam os cafés, os cinemas, restaurantes e ainda deu para uma volta pelo porto. O porto da Beira, servia como porta de entrada e saída de mercadorias para Países limítrofes e antigas colónias Britânicas.

Por fim o do táxi deixou os rapazes junto a uma conhecida cervejaria perto dos adidos.
Não se fazendo rogados, se sentaram na explanada, pediram canecas de cerveja, os célebres camarões gigantes, mais uns caranguejos enormes, a que Carlos achou primos de Santolas, de felpudos que eram, estes recomendados pelo criado negro que os servia.

 Os famosos "Gigantes"

 Os caranguejos

Já quase no fim do repasto se lembrou o Almodôvar de Perguntar a Carlos
- É pá, sei quem te está a chamar nomes a esta hora.
Carlos e o Cabo-verdiano a uma só voz.
- A loura. E todos deram uma gargalhada.
- Vocês estão-se a rir, mas eu estou com pena de não estar sentado a esta hora com a bichinha. A rapariga deve-se ter preparado toda para os preliminares e eu aqui com dois marmanjos, em vez de estar a saborear a febra.
- Isto da tropa, é uma merda, só atrapalha um gajo. Disse o Cabo-verdiano.
- Como é que os “chicos” gostam disto. Falou o Almodôvar com ênfase na palavra chicos. (Pessoal que segue a carreira militar)
- A maior chatice, é que mesmo que adoeças inesperadamente, tens de te apresentar, caso contrário te abrem um inquérito e sais sempre lixado, sabem como é, basta um atraso de um minuto à parada, para ficares fudido até saíres da merda.

Pediram novamente cerveja, para uma rodada e se atiram aos caranguejos.

- Quando voltaremos a comer marisco? Perguntou Carlos
- Eu devo comer, não vou ficar tão longe do mar como tu, que vais lá mesmo para o interior. Disse o Almodôvar.
- Vocês provavelmente ainda vão curtir uma vidinha mais ou menos, mas eu pelas informações que me deram, vou ter uma vida lixada, só espero que aquilo seja um bando de gajos porreiros e que a “chicalhagem”(chicos) não atrapalhe a malta.
- Vais ver que ainda vamos rir, deste tempo que cá passamos. Disse o Cabo-verdiano para desanuviar as nuvens que se estavam a mostrar no rosto de Carlos.
- Deus te oiça, que em vez de maus ventos só sobre uma aragem. Retorqui Carlos.
- São horas. Disse o Almodôvar.
Repartiram a despesa pelos três e se dirigiram novamente para os Adidos. Estava um calor sufocante e com o efeito da cerveja, tinham as camisas completamente encharcadas

Na entrada de um autocarro (machimbombo como se chama em Moçambique) um Sargento ia fazendo a chamada para se irem sentando no interior do mesmo. Iniciaram o percurso que a noite anterior não deu para ver. Já, no aeroporto, Carlos se vira para os dois camaradas de jornada e pergunta.
- Eu tenho-me que apresentar no Agrupamento de Engenharia, como é com vocês?
- Eu no Hospital Militar de Nampula. Disse o Cabo-Verdiano
- Eu no Quartel-General. Disse o Almodôvar.
- Não devemos sair de Nampula, hoje isso só deverá ser amanhã ou nos dias seguintes. Disse Carlos
- Tens razão, em principio devemos mesmo ficar em Nampula esperando transporte.
- Se vocês concordarem, juntamo-nos na messe, logo que possível, assim já devemos saber como vai ser o transporte de cada um.

Concordaram os outros dois.

Pelo altifalante da aerogare, lá ouviram chamar para o voo da DETA para Nampula. Outros estavam ali para seguirem para os mais diversos lugares, uns para Tete, outros para Lourenço Marques e outros ainda para os mais diversos destinos em Táxis Aéreos.

Foram os três caminhando pela pista, juntamente com outros camaradas e gente civil que se tinha deslocado à Beira, ou se deslocava a Nampula. Carlos reparou em dois casais jovens, que tinham chegado da Metrópole.
- Casadinhos de fresco, estes. Pensou Carlos.
À frente do grupo seguia uma hospedeira, que os levou junto a um avião ainda a Hélice o “Friendship”, que tempos mais tarde, e como nada mais tendo para fazer, Carlos ia até ao aeroporto de Vila Cabral para ver quem chegava ou partia.
Entrando dentro do avião em lugares muito apertadinhos, lá se iam sentados os passageiros, os sacos desta vez, iam no bojo do avião. O voo seria directo e demoraria aproximadamente 2 horas. Carlos não pensava no almoço, apesar de já passarem das 12h, os camarões e os caranguejos, ainda nadavam em cerveja no seu estômago.
Põe fim lá partiu o avião, com um barulho ensurdecedor ao encontro do próximo destino “ Nampula”.
- Isto é uma lata de sardinhas, comparado ao Boeing. Disse o de Artilharia.
- Pois é, levo o cu mais apertado, que salsicha  em lata, no raio do banco. Respondeu Carlos
Uma coisa já eles tinham reparado, as moçambicanas, brancas e mulatas eram lindas e a hospedeira, não fugia à regra, esguia e muito bem feita.
- A medida do sapato, pelo qual o meu pé chora. Disse o Almodôvar.
- É muito engraçada mesmo. Aprontou o Cabo-verdiano
- Bem pode chorar o pezinho do menino. Disse Carlos sorrindo.

Durante o voo foi servido um breve almoço, em que nenhum dos três tocou, todos eles pediram só um café.
Todo o voo correu sem qualquer incidente, o dia estava limpo sem nuvens o que deu para verem o matagal e de vez em quando, algum ajuntamento de palhotas indígenas ou pequenas vilas já com casas e não só palhotas. Estranharam não existirem muitas estradas, era mais de picadas ou estradas de terra batida.

Marcava 14:30 h quando Carlos olhou para o relógio, na chegada ao aeroporto de Nampula.

Karl d'Jo Menestrel
06/03/2010


03 março 2010

Primeiros Momentos ** Na Beira e a 1ª Noite

Continuação…

Se meteram todos no Carocha do Transmissões, que dando “raters” pelas avenidas da Beira, lá ia carregando os rapazes.

- Diz lá então onde vais pagar a rodada. Indagou Carlos ao Transmissões.
- Vais, ver, pois estamos perto
- Mas é para fora da Cidade. Perguntou o Cabo-Verdiano, que de aquecido pelos dois litros de cerveja, já tinha alguma dificuldade em vislumbrar por onde ia passando.
- Não, estamos perto. Disparou como resposta o Transmissões

Por fim o Carocha, parou junto a uma casa de aspecto mais ou menos discreto, com uma simples tabuleta, junto à porta e por sinal muito mal iluminada onde se podia ler “Boite – Gato Preto”. À entrada um matulão de um negro, vestido da mesma cor, onde não era difícil adivinhar onde ficavam os olhos.
Saíram todos do automóvel.
O Transmissões dirigiu-se ao negro e trocaram algumas palavras, os três puderam ver o sorriso branco como a neve que o africano esboçou.

- Vamos lá então à rodada de cerveja, não pagamos entrada, nem consumo mínimo, só pagam o que beberem, sendo a primeira rodada de cerveja por minha conta.
Carlos encolheu os ombros e seguiu o Transmissões, logo seguido pelos outros dois maçaricos.

A primeira sensação que Carlos sentiu foi de mal-estar, um cheiro totalmente diferente dos que já tinha sentido antes, um cheiro que não conseguiu descortinar no imediato. Virou-se para o Transmissões e perguntou.
- Que cheiro é este pá, esquisito e olhou para os outros dois como que interrogando-os mentalmente.
- O cheiro tem cerveja, tabaco e catinga. Disse o Cabo-Verdiano
- Catinga? Interrogou Carlos
- Catinga é cheiro de preto, preto quando sua, cheira a catinga. Sorriu o Cabo-Verdiano enquanto descrevia o cheiro.
- A porra é forte, eu não diria catinga, será antes sulfato de merda. Aprimorou o Almodôvar sorrindo.

O Transmissões chegou-se a uma das mesas, junto a um grande circulo de cor amarela, desenhado no centro da grande sala.

- Vamos sentar aqui, disse o Transmissões. E se sentou
- Não pá aqui não dá, vamos para junto daquela parede e apontou uma mesa disponível. Disse Carlos
- Por mim está bem, mas porquê ali e não aqui, perguntou o transmissões.
- Porque não gosto que me pulem nas costas enquanto bebo uma cerveja. Respondeu Carlos enquanto sorria.
- Tens razão, disse o Almodôvar e continuou.
- Para primeira noite, vejamos primeiro como é o teatro de operações para poder executar o ataque. E se riu de si próprio, todos deram uma gargalhada e rumaram à mesa escolhida por Carlos, que ficava um pouco distante do balcão do bar e de fácil acesso à porta de entrada e com as costas protegidas pela parede.

Todos se sentaram, mas logo se levantou o transmissões dizendo que ia cumprimentar o dono da “baiuca” que estava no balcão.

- Já reparam que isto está cheio de gajas boas. Disse o Cabo-Verdiano
- Não pá, estou ceguinho, não vejo nada, estou é a precisar de uma cerveja mesmo para abrir os olhos. Deu como resposta o Almodôvar.
- Tenham cuidado com a cerveja, não apanhem a cardina, que amanhã “tambeim“ é dia. Deu de aviso Carlos, iniciando uma conversação com o “matarruano” do Almodôvar.
- Faz como entenderes, mas se este “gado” está aqui para foder, eu também quero. Afirmou o Almodôvar.
- Não penses nisso, isto é perigoso, é pior que bordel.
- As gajas tem que ter licença para atacarem aqui, isso quer dizer que tem inspecções médicas periódicas.
- Tu é que sabes pá, o caralho é teu.
- Vou mesmo partir para o ataque, vais ver e vou comer uma preta.
- Uma preta catingosa? Indagou Carlos
- Quero lá saber da catinga, as pernas da gaja até as ponho de lado.
- Porra, este gajo é fudido, está mesmo de cair numa gaja qualquer. Meteu-se na conversa o Cabo-Verdiano.
- Uma gaja qualquer, nada. Uma preta mesmo. Afirmou vincando o Almodôvar.

Os três riram.

Chegou por fim o Transmissões, sentou-se e perguntou.
- Então, que tal está o ambiente.
- Pesado. Respondeu Carlos
- Pesado? Interrogou o Transmissões.
- Este gajo quer comer uma preta hoje. Retorqui Carlos enquanto fazia um sinal com o queixo na direcção do Almodôvar.
- É pá é só escolheres, que eu trato do resto. Disse para o Almodôvar.
- Tá bem, quanto custa a bucha? Perguntou o Almodôvar
- Quinhentos paus. Informou o Transmissões.
- Quinhentos paus!!! Isso era o que eu oferecia para comer uma virgem lá na terra. Mostrando uma cara de espanto, para os outros.
- Virgem, nem no cú, tu aqui apanhas disso. Disse Carlos enquanto dava uma sonora gargalhada.
- Quero lá saber, hoje vou provar carne de preta. Afirmou o Almodôvar.
- Deve ser por causa do porco Alentejano, que o gajo está de ideias fixas.
- É pá sei lá o que me acontece amanhã, assim faço já hoje a prova.
- Tu estás a ficar marado e só chegaste a algumas horas, o clima está a chegar para ti.
- Faz tu o que entendas de melhor, mas eu vou comer uma gaja hoje.
- E preta, retorqui Carlos. Colocando todos na gargalhada.

Junto da mesa, chegou uma africana com quatro cervejas e dois pratinhos com caju, o raio da moça era muito bem feita, teria para aí uns dezoito, dezanove anos e ao se debruçar sobre a mesa para colocar as cervejas, o fez de maneira a salientar o traseiro, enquanto mostrava os roliços e firmes seios.
O Almodôvar aproveitou a deixa da apresentação.
- Tens tudo no lugar certo.
- Pois, mas não é para tu brincares. Disse a rapariga
- Olha, não sabes bem o que perdes, dou-te uma “berlaitada“, que numa mais esqueces e te pago pelo serviço.
Ela olhou para o Transmissões, como indagando.
- Ela tem dono pá, é o patrão, não causes confusão.
- Que pena.

A africana se afastou, gingando todo o corpo, rodopiando sobre os dedos dos pés, colocando sem norte o Almodôvar.

- É pá, aquilo é mesmo a medida do meu sapato. Afirmou o Almodôvar, não despregando os olhos do traseiro da moça.
- O que não falta são raparigas por aí, o que tu queres? Interrogou o transmissões.
- Uma preta, nova e boa “comó” milho. Retorqui o Almodôvar.
Carlos e o Cabo-Verdiano, estavam expectantes sobre as pretensões do Alentejano.
- Escolhe do leque que estão naquele canto.
- A de vermelho e cabelo liso, disse o Almodôvar. Que já as tinha debaixo de olho à algum tempo.
O transmissões olhou para a moça e fez um sinal para ela vir para a mesa, com ela veio uma alta e um pouco forte mulata, a de vestido vermelho tinha os cabelos pintados da cor das cenouras.
Chegaram junto da mesa e a do vestido vermelho perguntou para o grupo olhando todos.
- Oferecem-nos uma “Laurentina”
Logo o “matarruano”, alentejano e natural de Almodôvar interveio.
- Olha, senta mas é aqui. Batendo com as mãos em ambas as coxas
- Vou buscar então uma cadeira. Na volta a de vermelho sentou-se junto ao Almodôvar.
- Senta aqui pertinho “minha”. Disse o Cabo-Verdiano para a mulata.
- Pêra aí. E foi por uma cadeira para se sentar junto ao Cabo-Verdiano.
- A mulata abraçou o Cabo-Verdiano e lhe deu um valente beijo na face.
- Pede lá as “Laurentinas “. Disse o Cabo-Verdiano, que tinha enrubescido as maçãs do rosto.
- E então tu, ficas sozinho? Perguntou a negra para Carlos
- Estou a ver as modas, depois te digo se quero e o que quero.

Ao som de um Playback musical começou a cantar ou a gemer uma artista no palco, loura, cintura de abelha, pernas fortes, não muito alta, de mini-saia e com uma camiseta branca, que lhe realçava o busto, a rapariga não era desengraçada de todo.
Carlos se virou para a negra e em tom de brincadeira e sorrindo.
- Olha já escolhi.
- Qual delas queres que chamo
- A que está a cantar.
- Aquela! Não queres mais nada. Disse o transmissões.
- Ou aquela ou nada. Virando-se para "cenoura"
- Está bem, eu já lhe digo. E fez qualquer sinal para a moça que Carlos não conseguiu ver, nem descortinar sinal de resposta da loura.
- A mesa começou a animar com o Almodôvar atacando a “cenoura” e o de Cabo-Verde a dar as primeiras passagens de mão nas coxas da mulata.

Carlos ia-se recriando a ver o rebolar das ancas da loura enquanto cantava.
- É pá, estou a ficar com cara de parvo, ao vê-los para aí no “esfreganço” e a ficar na plateia. Atirou Carlos para a Mesa, chamando de seguida a miúda que tinha servido a primeira rodada.
- Traz lá as manas das primeiras, para todos. Disse Carlos à moça
- O Quê?
- Traz lá mais seis “Laurentinas” e uns pratinhos para acompanhar. Informou o Transmissões para a moça, descodificando o que Carlos pretendia.
- Há!. E foi buscar as cervejas.

Já as cervejas iam a meio, quando a loura cantora, se chegou à mesa e se encostou à negra de vermelho.
- Numa boa, não?
- Estava esperando por ti para entrar na festa. Disse Carlos enquanto se levanta e retirava uma cadeira de uma mesa próxima.
- Queres te juntar ao grupo? Interrogou Carlos
- E vais ser o meu parceiro na festa? Perguntou a loura a Carlos.
- Se a festa meter arraial eu alinho. A loura sorriu e sentou-se coladinha a Carlos.
- Não dá para acreditar. Disse o Transmissões.
- Que queres estou sozinha, o parceiro foi de férias para a Metrópole.
Carlos, a loura e o transmissões sorriram.
- Queres tomar alguma coisa? Disse Carlos
- Não, quero brincar.
- Brincar, aos papás e ás mamãs?.
- E tu não queres?
- Vai lá mais devagar, primeiro diz-me quanto custa a renda da casa.
- Ela sorriu, se formos agora é mais económico.
- Quanto?
Ela chegou perto do ouvido de Carlos.
- Metade de uma grande, mais o táxi.
Carlos lembrou-se da conversa com o Almodôvar e retorquiu.
- Por acaso és virgem ou só assanhada?
Ela deu uma gargalhada, agarrou Carlos pelo pescoço e ao ouvido novamente e num tom meloso.
- Assanhada
-Carlos sorriu
Carlos interpelou o transmissões.
- A Senhora pediu-me para a levar a casa, tem medo da noite, como é? Esperam por mim ou tenho que me fazer à vida.
- Já? Interrogou o Almodôvar.
- Não é já, é agora, antes que a cerveja faça efeito.
- Vamos, disse o Almodôvar para o Cabo-Verdiano
- Vamos todos no mesmo táxi, disse loura.
- Moram todas na mesma casa? Perguntou Carlos
- Temos Flats separadas, mas no mesmo edifício.
- Flats, o que é isso? Carlos não conhecia o termo
- O mesmo que apartamento. Informou a negra.
- Então esperas? Perguntou ao transmissões.
- Espero, vão lá, mas não demorem.
- Isso não sei, enquanto não der cabo dele, ele não volta. Disse a loura
- Poupa o moço, que é a primeira noite africana.
- Aí que bom. Disse a mulata e sorria
- Eu te dou o “aí que bom”. Retorqui o Cabo-Verdiano, enquanto lhe apertava um dos glúteos.
- Não comeces já a estragar, poupa-te que tens muito trabalhinho pela frente. Disse sorrindo a mulata

Todos sorriram, entretanto o transmissões, chamou a moça das cervejas e pediu a conta e para chamar um táxi. Pagaram as rodadas e saíram para a rua, onde o preto matulão lhe dá um sorriso de cumplicidade. De tanto que estavam entretidos com os novos brinquedos nem deram pelo que o negro disse.
Meteram-se no Táxi, sentando-se os seis no banco de traz, ficando as raparigas nos joelhos de cada um. De tanto entretidos estavam, que não deram por o Táxi parar junto a um edifício bem alto, dos mais altos da Beira, junto à estação dos Caminhos de Ferro.

-Vamos. Disse a loura, saltando para a avenida.
Meteram-se no elevador e subiram ao 5º andar do edifício, seguindo as parelhas para o apartamento das arrendatárias dos mesmos. A cantora abriu a porta e logo disparou.

- Fica á vontade. Desaparecendo numa das portas do pequeno corredor.
Carlos que estava alagado em suor, pela noite tropical e pelas cervejas, retirou a camisa, ficando de tronco nu. Apetecendo-lhe passar a cara e o tronco por água, pergunta.
- Onde fica a casa de banho?
- Só tenho uma e estou cá eu.
Seguindo a voz, Carlos percorre em poucos metros que o afastam da porta, que abre.
- Podes continuar, que só quero lavar a cara e o tronco.
- E não podes esperar?
- Para atrasar a festa?
- Eu já te dou uma toalha lavada para te limpares.
Carlos começou a passar a água pela cara, quando sentiu as mãos da loura percorrendo o seu tronco com uma espoja húmida.
- Assim é muito melhor com direito a massagem. Disse Carlos
Carlos limpou a cara na tolha ofertada, enquanto a loura lhe limpava o tronco e o peito. E pensou para consigo, “vai ser uma noite linda, vai”.
A loura interrompeu o pensamento de Carlos.
- Vamos?
- Porque esperas. Disse Carlos seguindo a loura até ao quarto da mesma, todo arranjado e com aspecto de limpo.
- Tens um quarto todo catita.
- Não sou eu que trato dele, é uma negra que tenho como criada. Foi esclarecendo enquanto retirava as roupas nos maiores vagares e provocação.
- Não tiras as calças ou embarcas mesmo calçado. Continuou a loura provocando.
- Estou a deliciar-me com o teu maneirismo.
- Vem aqui. Batendo com a palma da mão no baixo-ventre.
- Espera um pouco. Disse Carlos enquanto se desfazia do resto da roupa.
- Eu tenho que pagar para me satisfazer, quanto pagas tu se ficares satisfeita? Perguntou Carlos enquanto sorria.
- Deixa-te de brincadeiras parvas e vem espetar a lança em África. Disse a loura, sorrindo enquanto passava as mão pelos mamilos.

O “piston” de Carlos estava em estado de bengaleiro para botas militares.

Do rega-bofe e das cavalgadas da batalha que se seguiu, não reza a história só se sabe que não existiu vencedor nem vencido, ambas as partes saíram satisfeitas do campo da contenda.

- Me sabia bem um banho agora. Disse Carlos
- Vamos os dois disse a loura. Levantando-se e caminhando para o pequeno w.c. do apartamento.

Já com água a correr pelos corpos, Carlos puxou a loura pelos glúteos contra o seu corpo.
- Por hoje basta, se quiseres aparece pelas onze horas e nos divertimos mais um pouco e depois almoçamos por aí.
- Se aparecer, só pago o almoço, as entradas ficam por tua conta. Disse Carlos com a loura colada ao seu corpo. A loura lhe deu um beijo por baixo do lóbulo da orelha.
- Não te pedi nada, pois não.
- Não.
- Fica combinado, espero por ti então.
- Eu tenho de estar nos Adidos para me apresentar, depois e se der venho ter contigo, aqui ao apartamento.
- Olha, queres comer alguma coisa, estou com fome e vou beber uma caneca de leite com pão e queijo, anda senta-te aqui comigo.
- Não, fome não tenho, se tiveres por aí um copo de água e um café bem forte faço-te companhia.
A loura levantou-se e foi fazer um café e serviu-lhe um copo de água, que retirou de um garrafão. Só se sentou quando o café já estava pronto. Sentados os dois à mesa Carlos perguntou como ela veio parar a Moçambique.
- É uma longa história. Começou a loura
- Eu sempre gostei de cantar e quando fui estudar para Coimbra, comecei a frequentar os bares onde existiam orquestras, podendo assim satisfazer o meu gosto pessoal.
Carlos continuava calado enquanto a loura contava parte da sua vida.
- Não frequentava a Universidade, pois saía dos bares bastante tarde, assim perdi o primeiro ano e o segundo, estas coisas sabem-se na terrinha e meu pai veio a saber, um dia entrou pelo bar onde eu estava a actuar e me arrastou para fora. Fiquei revoltadíssima e rapidamente tomei a decisão de abandonar a família, refazendo a minha vida. Naquela altura existiam bastantes estudantes de Moçambique que diziam maravilhas desta terra, não tardou nada e estava em Lourenço Marques a actuar, isto foi o ano passado, depois surgiu o convite para actuar aqui na Beira.
- Não me quero meter na tua vida, mas podias encontrar um emprego, na área que estudavas e terminar o curso, refazendo a tua vida e deixando a noite.
- Que pensas tu que eu quero, quero abanar a árvore das patacas por um ou dois anos e tirar um curso em Lourenço Marques e começar uma vida nova. Pensas que vou com qualquer um para a cama, estás todinho enganado, engracei contigo e me apeteceu, tiveste sorte. E riu-se colocando a cabeça de lado, deixando cair os cabelos sobre o braço de Carlos e contínuou.
- E tu, por onde andaste até seres mobilizado?
- Diz-me uma coisa, pois fiquei curioso, mas se não quiseres responder não respondas, de onde és? Perguntou Carlos
- Não conheces, mas podes saber, sou de uma aldeia perto de Penacova, conheces?
- Conheço, uma empresa do meu pai, fez o abastecimento de água a todo o concelho, deve fazer “pr’aí” dez ou doze anos.
- Eu lembro-me, era uma empresa do Alentejo, tu és Alentejano?
-Não, mas é como se fosse, levaram-me para lá com sete meses.
- Olha que engraçado, não me vais dizer que és Beirão?
- Digo, nasci a quarenta quilómetros de Coimbra, isto é entre Tomar e Coimbra, no Concelho de Ansião.
- Tive um amigo que era dessa zona de Alvaiázere.
- Esse é um concelho pegado ao meu, um pouco mais para Sul.
- Vá, diz lá o que fazias antes de vir cá parar.
- Estudei e Trabalhei
- Ao contrário da tua experiencia, fui eu que pedi ao meu pai, para deixar Lisboa e voltar para Évora, estava bastante envolvido na noite e durante o dia ainda me entretinha com duas gatas da Batalha que serviam no refeitório da Direcção Geral de Hidráulica, onde tomava as refeições, eu dormia num quarto alugado no mesmo edifício, que elas trabalhavam.
- Que curso abandonaste.
- Engenharia e tu.
- Farmácia.
Sorriram os dois da aventurosa vida.

A loura terminou a pequena refeição.
- Vamos.
- Vamos lá, disse Carlos

Ela chamou um táxi, e voltaram para a Boite, desta vez Carlos viu sorriso da cumplicidade do porteiro.

Já lá esta o Almodôvar e o Cabo-Verdiano com o transmissões, junto a eles a cenoura e a mulata.
- É pá custa-te a vir não. Estamos à uma eternidade à tua espera. Disse o Almodôvar sorrindo.
- A culpa foi da cerveja. Respondeu Carlos sorrindo
- Então como foi a primeira noite em África. Atirou a negra a Carlos.
- Cheguei, vi e venci. Respondeu Carlos no mesmo tom.
- Convidei-o para almoçar amanhã. Disse a loura
- O quê? Perguntou o Almodôvar.
- Que queres pá, dá direito a banquete. Interrompeu Carlos, dando uma gargalhada.

O transmissões, pediu a conta e desta vez foi repartida entre eles, despediram-se das miúdas, com promessa que se voltassem à Beira as procurariam.
Dirigiram-se à para a porta e o transmissões levou-os ao hotel. Estava a começar a clarear o dia.

- Olha lá, como vamos amanhã para os Adidos. Perguntou Carlos.
- Vocês não vão dormir agora, tomam banho, vestem a farda e eu daqui a três horas venho busca-los e deixo-os nos Adidos.
- Porra, estou todo partido, disse o Cabo-Verdiano, apetecia-me era cama mesmo.
- Da cama vens tu pá. Disse o Almodôvar, rindo.
Tocaram a campainha do Hotel e o dono do mesmo veio abrir a porta, eram perto das cinco da manhã.
- Companheiros, isso é que foi uma noite!
- Agora banho e mata-bicho depois. Respondeu Carlos
- Só pelas sete é que temos pão.
- Boa hora mesmo, então aqui ás sete disse Carlos para os outros dois e se dirigiram para a escada de acesso aos quartos.

Pelas sete começaram a aparecer na sala para o pequeno-almoço, depois de banho tomado, devidamente ataviados e com os sacos de campanha. Sentaram-se os três a uma mesa e iniciaram o historial com as miúdas da boite.
O Almodôvar, se apressou a dizer, que ficou tratado por algum tempo, que ainda não tinha apanhado nada igual.
- Eu bem queria comer uma preta, acreditem nem dei pela catinga.
- E tu como te entendeste com a mulata? Perguntou Carlos ao Cabo-Verdiano.
- Aquilo foi muito rápido, rápido demais ela despachou-me em três tempos eu não me segurei e pronto.
- E tu? Perguntou o Almodôvar a Carlos.
- Escapou.
- Escapou? Interrogaram o Almodôvar e o Cabo-Verdiano em uníssono.
- Bem, a gente se entendeu muito bem, foi até o corpinho aguentar, ainda tomei banho e bebi um café.
- Estás a reinar? Disse o Almodôvar.
- Não estou nada pá, não ouviste ela dizer que me tinha convidado para almoçar.
- E vais?
- Se der tempo, vou, que tenho a perder?
- Tiveste cá uma sorte.
- Olha o finório, com direito a banho e bucha. Afirmou o Cabo-Verdiano.
Riram todos.
Tomaram o pequeno-almoço, entretanto chegou o transmissões, ofereceram o mata-bicho, que não aceitou.
Carregaram os sacos para o carocha, rumando depois para os Adidos.

Karl d'Jo Menestrel
03/03/2010