15 fevereiro 2010

Primeiros Momentos ** Luanda

Baía de Luanda no inicio da noite

Depois de servido o almoço, um prato de fatias finas de carne assada com puré de batata, regada com laranjada e um café no final.

Carlos ainda fumou um cigarro no fundo do avião onde estavam outros camaradas, necessitava de esticar um pouco as pernas, até aquele momento o voo tinha decorrido sem qualquer incidente.

Tomou conhecimento com outro camarada, este da Arma de Artilharia, ora a Escola Prática de Artilharia ficava somente a 55 km de Évora em Vendas Novas.

- Como te está a correr a viajem, iniciou Carlos, para meter conversa.
- Doem as pernas de tanto estar sentado, e tu?
- Um pouco dorido, mas nada de anormal, tinha que as estender, por isso vim até aqui para circular um pouco.
- Já reparaste que vai também um Brigadeiro disse o de Artilharia
- Não, onde!
- Lá mesmo em frente, logo a seguir á cabine do piloto.
- Isto calha a todos, retorquiu Carlos.
- Donde és?, perguntou o de Artilharia
- Évora e tu?
- Sou de Almodôvar, sabes onde fica?
- Sei depois de Beja, para o lado da raia, no caminho para Castro Verde, à esquerda.
- È isso.
- Para onde vais, perguntou Carlos
- Para Cabo Delgado, Mocimba da Praia.
- Vais em rendição individual? Eu vou substituir um Segundo de Engenharia em Vila Cabral no Norte de Moçambique.
- Isso é no Niassa não é? Perguntou o de Artilharia.
- É, mas não fica perto do Lago, a Companhia cobre toda a Província do Niassa e está agregada a um Agrupamento em Nampula.
- Estás com sorte, ainda ficas em Nampula
- Era bom era, afirmou Carlos.
- Onde estás sentado?
- Pouco à frente da asa, e tu?
- Junto à asa
- Então estamos perto, como tens sentido a viajem? Voltando Carlos ás perguntas.
- Bem, nunca tinha andado de avião, mas vai-se bem, apesar de ser um pouco cansativa e de nos podermos mexer pouco.

Vai chegando perto deles o Cabo-Verdiano, que aproveitou também para esticar as pernas, as apresentações da praxe desta vez iniciadas por Carlos, tomando logo o de Artilharia a iniciativa de tomar conta da conversa.

- Isto vai ser bom para ti. Dirigindo-se para o Cabo-Verdiano
- Porquê? Por ir para um hospital, nada garante que lá fique. O hospital é uma espécie de depósito, depois de me apresentar, posso ir substituir um diabo, a um qualquer buraco no mato, não é tão fácil assim, e sobre ir para a mata, se a companhia for, tenho que avançar também, tu pensas que maqueiros e enfermeiros têm vida fácil, não é bem assim, se ficar no hospital, aí sim a vidinha cá do rapaz é outra, por enquanto é tudo uma incógnita a vossa e a minha.
Carlos para desanuviar, perguntou.
-Está alguém á vossa espera na Beira? Como se vai se processar a nossa chegada, já que só nos temos de apresentar em locais diferentes no Norte e não na Beira?.
- Não sei como se vai como vai ser a chegada, mas deve ter alguém para dar alguma indicação. Disse o de Artilharia
- Não sei bem, mas devemos de ir ter à messe de Sargentos para comer e dormir e ali alguém deve dar umas dicas não? o que achas tu disse virando-se para Carlos.
- Coloca mais hipóteses na mesa e vais ver que não é nada disso, eles têm de ter alguém que dê informações. Sabes onde é a Messe?
- Eu não? Aquilo não deve ser uma aldeia, e que eu saiba Aeroportos Internacionais e com bastante movimento, não ficam no centro da cidade, por isso não vou pensar nisso, quando lá chegar logo veremos como é, vocês sabem se dão de jantar?
- Duas refeições, vê lá se queres um lanchinho, uma cerveja com uma sandes de leitão, serve? Disse o de Artilharia
Riram os três, eles já sabiam como as coisas se passavam na tropa. Carlos replicou.
- Se nada mais houver, começas cedo a comer ração de combate que te lixas.
- Não era assim tão mau, o problema é que azeitamos isto tudo com as latas de sardinha.
Voltaram os três a rir com a ideia da ração de combate para o jantar.
O de Artilharia mudou o rumo à conversa.
- É pá, há pouco estive a pensar que provavelmente, ficamos em Luanda e só partimos amanhã para Moçambique, é que já é noite em Luanda quando lá chegarmos.
- Achas? Disse Carlos e continuou
- Eu penso que é uma escala técnica para meter gasosa e continuar viajem. Olhem descolámos ás 11:30 mais 8:00 dá 19:30 nossas mais 1 horas de diferença dá 20:30 em Angola e em Moçambique são 21:30, não sei é quanto tempo demora esta porra de Luanda à Beira.
- És capaz de ter razão, o voo tem como destino final Moçambique, deve ser mesmo escala técnica, não tem sentido levar maralha para Luanda e carregar mais malta para a Beira, isto é directo. Disse o de Artilharia
- É pá será que a malta estica as pernas em Luanda, ou ficamos na lata o tempo todo?.
O de Artilharia e Carlos encolheram os ombros, indicando assim que nenhuma ideia faziam do que se iria passar em Luanda.
O de Artilharia e Carlos, fumaram mais um cigarro e continuaram os três na conversa, quando os cigarros terminaram foram para os seus lugares.

Já sentados, o Cabo-Verdiano disse para Carlos.
- Vou passar pelas brasas, a noite vai ser longa pelo que vejo.
- Consegues dormir? Disse Carlos
- Já dormi e vou continuar, vê lá se dás o beliscão com menos força?
- Desculpa pá, não foi beliscão, foi uma cotovelada, na próxima mando a hospedeira acordar-te. Disse Carlos enquanto sorria.
Mas também Carlos acabou por dormitar.

A Voz do altifalante, se fez ouvir novamente, era o Comandante indicando que estavam a se aproximar de Luanda e que estavam 28 º na área do aeroporto.

O Cabo-Verdiano acordou e Carlos também, Carlos não deixou a passagem em claro.
- 28 º e às 8 horas da noite! Porra a coisa é quente mesmo.

Se faz ouvir agora a voz do comissário, para os passageiros irem para os lugares, endireitarem as cadeiras, apagarem os cigarros e apertarem os cintos.

Carlos virou-se para o Cabo-Verdiano,
- Jantar “nikles”
- Já era de esperar, vais ver, vem ração de combate a caminho de Moçambique.
- Venha o que vier, “morre”
Riram os dois e se aconchegaram nas cadeiras. Era a primeira vez que Carlos iria aterrar num avião, se encontrava expectante.

O Avião começou a descer, Carlos começou a vislumbrar lá muito em baixo, as luzes que provinham do casario, o Avião baixando e Carlos não tirava o nariz da janela.

- É pá Luanda é bonita toda esta vista, olha aquilo. Era a lindíssima baía de Luanda, um espectáculo fantástico que o deslumbrava.

O avião faz-se á pista, Carlos vê da janela toda a aproximação da aeronave, no momento em que o avião aterra sente os solavancos provocados pela travagem na aterragem, nada de especial se passa, o avião já rola na pista, sente-se fortemente o barulho dos motores, depois tudo se acalma, o avião rola suavemente para junto de uma aerogare.

“Senhores passageiros, queiram ficar nos vossos lugares com os cintos apertados e não fumarem, estamos executando uma escala técnica de trinta minutos para reabastecer e continuar o voo para Moçambique”.

- Em Luanda, enlatados e presos ao banco, no mínimo, que nos deixassem cheirar o ar de África. Disse Carlos para o camarada de cadeira.
- Quanto tempo nisto?
- Sei lá. Disse Carlos e continuou.
- Quantos litros levará o bicho nas asas?
- Não sei mas devem ser muitos, retorquiu o Cabo-Verdiano

Carlos pela janela viu dois Camiões grandes de uma companhia de combustíveis, aproximando-se do “Boeing”.
- Olha pela parte de baixo, deve levar uns 30.000 litros de combustível.

Passaram-se trinta longos minutos, quando o altifalante voltou a se ouvir, “Queiram endireitar as cadeiras, o voo vai continuar e terá a duração de 2:30h até ao aeroporto da Beira em Moçambique”.

O Cabo-Verdiano deu um ar de graça.
- Vamos lá prá guerra que estar enlatado não tem graça.
- Carlos sorriu, ajeitou-se na cadeira preparando-se para levantar do voo.

E iniciou um cálculo para a hora da chegada

19:30h nossas mais 2 horas de diferença dá 21:30 em Moçambique, com mais 02:30 para a Beira dá 24:00, virou-se para o Cabo-Verdiano.
- Com sorte e vento pelas costas ainda chegamos hoje à Beira, não tarda nada e dão uma ração de combate à maralha.
- O Cabo-Verdiano, nada disse, só anuiu com a cabeça

Karl d'Jo Menestrel
14/02/2010

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