07 março 2010

Primeiros Momentos ** 1º Dia em Moçambique

  
Brasão de Moçambique

Mapa Administrativo
 
Mapa de Estradas
Lichinga é nome que tomou depois da independência a Cidade de Vila Cabral

 
  
Vista Aérea da Cidade da Beira
  

Chegados aos Adidos o Transmissões, despediu-se dos rapazes.
- Quando voltarem à Beira já estou fora da tropa e pode ser que nos voltemos a encontrar, procurem por mim no bar onde comeram os camarões tigres, o dono daquilo saberá o meu paradeiro.
Os maçaricos abraçaram o velhinho, que lhes tinha dado as primeiras lições de como estar em terras Africanas, muita cerveja, muito marisco e algumas mulheres para animar a malta.

Lá se foram juntar aos que na noite anterior tinham chegado no avião dos TAM. Por ali espalhados, Cabos, Furriéis, Alferes, Tenentes, Capitães, Majores, Tenentes-coronéis e Coronéis, em maioria estavam os Furriéis, que vinham render outros camaradas.
Chegando a vez de Carlos, foi informado, que embarcaria no aeroporto da Beira para Nampula num avião da DETA (Transportadora Aérea de Moçambique) teriam de voltar aos Adidos pelas 11h, para tomarem uma viatura que o levaria até ao aeroporto.

- E agora disse Carlos virando-se para o de Artilharia e o da Saúde.
- Vamos por aí. Disse o Cabo-Verdiano fazer tempo.
- Por mim para onde forem, eu também vou. Atirou o de Almodôvar
- Olhem lá e se alugasse-mos um táxi, para ele nos mostrar a cidade, temos quase 3 horas, ainda dá para vermos alguma coisa, beber umas cervejas e como o marisco é quase oferecido, voltava-mos a dar umas trincadelas nuns gigantes.
- Por mim podes comandar as tropas. Afirmou o de Artilharia.
- E tu pá não vais ter com a louraça. Lembrou-se o Cabo-Verdiano.
- Isso não me sai da cabeça, mas como posso ir? Nem avisar posso, não tenho o telefone da magana.
- E se a gente passa-se por lá? Disse o Almodôvar.
- Para quê? Disse Carlos
- Para a despedida.
- Qual quê não dá tempo, o bom era ficar por cá até amanhã e só depois ir, assim não dá.
- Eu arranjo a coisa. Disse o Cabo-verdiano.
- Como? Respondeu Carlos
- Vamos ao Hospital Militar e tu dás entrada dizendo que tens fortes dores de barriga, assim ficas por cá uns tempos.
- Tu és mais maluco que eu, então eu ia trocar uns dias no hospital, para me darem umas injecções de água destilada, ainda a foda era maior.
- Só queria ajudar.
- Deixa lá, não devem é faltar mulheres lá no Norte.
- Pretas, prova as pretas, que não te arrependes.
Todos riram, com a tirada do Almodôvar.
- Então vamos dar a volta de táxi, ou sentamos, numa esplanada no centro. Interrogou Carlos
- Vamos lá ver as vistas disse o Cabo-verdiano.

Não foi difícil encontrar um táxi e fechar o negócio com o taxista, duas horas por conta deles, mostrando a Beira e alguns arredores.

- O que querem ver? Perguntou o taxista
- Tudo o que nos poder mostrar. Informou Carlos que ia à frente.
- Começamos pelas praias, pode ser.
- Pode, mas tem que terminar numa cervejaria perto dos Adidos.
- Começamos pelo Macuti.
- Macuti ?
- Sim é uma praia onde existe um farol não é longe.
-A praia do Macuti obteve o nome, devido ao cargueiro do mesmo nome, que operava na costa Moçambicana e que acabou por encalhar junto ao farol. Lá foi informando o do táxi

 
Praia do Macuti

 
Praia do Macuti 

 Acácias nas avenidas da Beira

Estação dos Caminhos de Ferro

Moeda corrente em Moçambique

 
Uma das grandes, Um conto de Reis, Mileca grande

Largo Caldas Xavier

Ao fundo Hotel Moçambique onde Carlos se hospedava, quando de passagem pela Beira para Portugal ou de Portugal para a Beira

Cubatas perto da praia

Passaram o tempo entrando e saído do táxi, para melhor verem algum lugar, passaram pelas avenidas largas da Beira. Taxista, mostrou lugares onde se situavam os cafés, os cinemas, restaurantes e ainda deu para uma volta pelo porto. O porto da Beira, servia como porta de entrada e saída de mercadorias para Países limítrofes e antigas colónias Britânicas.

Por fim o do táxi deixou os rapazes junto a uma conhecida cervejaria perto dos adidos.
Não se fazendo rogados, se sentaram na explanada, pediram canecas de cerveja, os célebres camarões gigantes, mais uns caranguejos enormes, a que Carlos achou primos de Santolas, de felpudos que eram, estes recomendados pelo criado negro que os servia.

 Os famosos "Gigantes"

 Os caranguejos

Já quase no fim do repasto se lembrou o Almodôvar de Perguntar a Carlos
- É pá, sei quem te está a chamar nomes a esta hora.
Carlos e o Cabo-verdiano a uma só voz.
- A loura. E todos deram uma gargalhada.
- Vocês estão-se a rir, mas eu estou com pena de não estar sentado a esta hora com a bichinha. A rapariga deve-se ter preparado toda para os preliminares e eu aqui com dois marmanjos, em vez de estar a saborear a febra.
- Isto da tropa, é uma merda, só atrapalha um gajo. Disse o Cabo-verdiano.
- Como é que os “chicos” gostam disto. Falou o Almodôvar com ênfase na palavra chicos. (Pessoal que segue a carreira militar)
- A maior chatice, é que mesmo que adoeças inesperadamente, tens de te apresentar, caso contrário te abrem um inquérito e sais sempre lixado, sabem como é, basta um atraso de um minuto à parada, para ficares fudido até saíres da merda.

Pediram novamente cerveja, para uma rodada e se atiram aos caranguejos.

- Quando voltaremos a comer marisco? Perguntou Carlos
- Eu devo comer, não vou ficar tão longe do mar como tu, que vais lá mesmo para o interior. Disse o Almodôvar.
- Vocês provavelmente ainda vão curtir uma vidinha mais ou menos, mas eu pelas informações que me deram, vou ter uma vida lixada, só espero que aquilo seja um bando de gajos porreiros e que a “chicalhagem”(chicos) não atrapalhe a malta.
- Vais ver que ainda vamos rir, deste tempo que cá passamos. Disse o Cabo-verdiano para desanuviar as nuvens que se estavam a mostrar no rosto de Carlos.
- Deus te oiça, que em vez de maus ventos só sobre uma aragem. Retorqui Carlos.
- São horas. Disse o Almodôvar.
Repartiram a despesa pelos três e se dirigiram novamente para os Adidos. Estava um calor sufocante e com o efeito da cerveja, tinham as camisas completamente encharcadas

Na entrada de um autocarro (machimbombo como se chama em Moçambique) um Sargento ia fazendo a chamada para se irem sentando no interior do mesmo. Iniciaram o percurso que a noite anterior não deu para ver. Já, no aeroporto, Carlos se vira para os dois camaradas de jornada e pergunta.
- Eu tenho-me que apresentar no Agrupamento de Engenharia, como é com vocês?
- Eu no Hospital Militar de Nampula. Disse o Cabo-Verdiano
- Eu no Quartel-General. Disse o Almodôvar.
- Não devemos sair de Nampula, hoje isso só deverá ser amanhã ou nos dias seguintes. Disse Carlos
- Tens razão, em principio devemos mesmo ficar em Nampula esperando transporte.
- Se vocês concordarem, juntamo-nos na messe, logo que possível, assim já devemos saber como vai ser o transporte de cada um.

Concordaram os outros dois.

Pelo altifalante da aerogare, lá ouviram chamar para o voo da DETA para Nampula. Outros estavam ali para seguirem para os mais diversos lugares, uns para Tete, outros para Lourenço Marques e outros ainda para os mais diversos destinos em Táxis Aéreos.

Foram os três caminhando pela pista, juntamente com outros camaradas e gente civil que se tinha deslocado à Beira, ou se deslocava a Nampula. Carlos reparou em dois casais jovens, que tinham chegado da Metrópole.
- Casadinhos de fresco, estes. Pensou Carlos.
À frente do grupo seguia uma hospedeira, que os levou junto a um avião ainda a Hélice o “Friendship”, que tempos mais tarde, e como nada mais tendo para fazer, Carlos ia até ao aeroporto de Vila Cabral para ver quem chegava ou partia.
Entrando dentro do avião em lugares muito apertadinhos, lá se iam sentados os passageiros, os sacos desta vez, iam no bojo do avião. O voo seria directo e demoraria aproximadamente 2 horas. Carlos não pensava no almoço, apesar de já passarem das 12h, os camarões e os caranguejos, ainda nadavam em cerveja no seu estômago.
Põe fim lá partiu o avião, com um barulho ensurdecedor ao encontro do próximo destino “ Nampula”.
- Isto é uma lata de sardinhas, comparado ao Boeing. Disse o de Artilharia.
- Pois é, levo o cu mais apertado, que salsicha  em lata, no raio do banco. Respondeu Carlos
Uma coisa já eles tinham reparado, as moçambicanas, brancas e mulatas eram lindas e a hospedeira, não fugia à regra, esguia e muito bem feita.
- A medida do sapato, pelo qual o meu pé chora. Disse o Almodôvar.
- É muito engraçada mesmo. Aprontou o Cabo-verdiano
- Bem pode chorar o pezinho do menino. Disse Carlos sorrindo.

Durante o voo foi servido um breve almoço, em que nenhum dos três tocou, todos eles pediram só um café.
Todo o voo correu sem qualquer incidente, o dia estava limpo sem nuvens o que deu para verem o matagal e de vez em quando, algum ajuntamento de palhotas indígenas ou pequenas vilas já com casas e não só palhotas. Estranharam não existirem muitas estradas, era mais de picadas ou estradas de terra batida.

Marcava 14:30 h quando Carlos olhou para o relógio, na chegada ao aeroporto de Nampula.

Karl d'Jo Menestrel
06/03/2010


1 comentário:

Paula Barros disse...

Oi, bem demorada a minha vinda por aqui, queria ler com calma. Domingo nublado foi um excelente dia.

O texto com as fotos sempre me fascina, prende a atenção.

Imagino ser emocionante relembrar esses momentos.

abraço